A inflação afeta não só o nosso poder de compra, à medida que pagamos mais pela mesma quantidade de bens e serviços, como também as nossas economias, quando nossos investimentos passam a render menos do que a inflação. Isto pode ocorrer (e ocorreu) quando as taxas de juros pagas pelas aplicações financeiras são mantidas artificialmente baixas enquanto a inflação mantém-se relativamente alta.
Particularmente, uma inflação mais alta afeta muito mais os pobres do que os ricos. Pelo lado das despesas, como os pobres gastam uma parcela muito mais significativa de seu orçamento em itens essenciais, lhes é muito mais difícil cortar gastos. Já pelo lado das receitas, mesmo que os salários sejam corrigidos pela inflação, geralmente isto é feito com base nas variações passadas. Em um cenário em que a inflação está acelerando (apresentando variação maior a cada ano), o aumento de renda acaba sendo sempre menor do que a variação dos preços de bens e serviços.
Um exemplo disto: no ano de 2013 a inflação medida pelo IPCA foi de 5,91%. Se o seu salário for corrigido neste percentual, mas a inflação já se encontra em torno de 6,5%, significa que o aumento de renda não faz frente ao aumento dos preços dos produtos.
Quanto aos investimentos, a população mais pobre, quando consegue poupar (poucos conseguem…), tem quase nenhum acesso a produtos de investimento mais rentáveis. Normalmente, são acessíveis apenas a caderneta de poupança, fundos de investimento com taxas de administração salgadas, e outros títulos de renda fixa (como o CDB) com baixa remuneração (normalmente, em torno de 80% do CDI para aplicações no valor de R$ 100). Neste caso, a única exceção talvez seja o Tesouro Direto.
Já a população mais rica, além de ter maior facilidade para trocar bens e serviços mais caros por outros mais baratos, consegue acessar produtos financeiros com melhor remuneração como fundos de investimento com taxas de administração de 0,5% ao ano, LCIs e LCAs, CDBs com taxas acima de 100% do CDI etc.
Para ilustrar um pouco esta questão da taxa real de juros, exibimos no gráfico abaixo as taxas reais de juros anuais, ou seja, o rendimento nominal descontada a variação da inflação (utilizamos o IPCA por ser o índice oficial). No caso do CDI, descontamos ainda o imposto de renda à alíquota de 15%. No caso da poupança, apenas os rendimentos de 2013 em diante referem-se à nova regra.
O que podemos observar claramente é que as taxas reais de juros caíram significativamente do ano passado para cá. Em 2018, com a taxa Selic sendo mantida em seu patamar mais baixo desde o início do Plano Real, o CDI oferecerá retorno líquido de apenas 1,70%. Já a poupança, terá rentabilidade real de apenas 0,90%.